Nesse mês de setembro, o
Ministro Geral, Frei Mauro, estará enviando à toda Ordem uma carta circular com
o tema Identidade e Pertença. Uma autêntica identidade tem necessariamente
um grupo prioritário de pertença. Sem pertença não há identidade
verdadeira. Esse tema da identidade
interessa diretamente à formação, tanto inicial como a permanente,
particularmente em nossos tempos.
Vivemos, em nossa sociedade, tempos de liberdade e de
respeito à alteridade. Estes, em si, são
valores apreciáveis. Cada pessoa tem o direito sagrado de escolher seu caminho,
fazer suas opões, ser vinculado a um grupo religioso ou não, viver sua vida
livremente. Qualquer mecanismo ou instituição que tente criar limites de
liberdade para as pessoas é criticada, rejeitada e mal vista. Radicalizada, no entanto, essa cultura da
liberdade faz com que as pessoas, aos poucos, vão perdendo seus valores de
referência. Qualquer coisa é a mesma coisa. Perde-se a originalidade e a
própria identidade fica diluída. Nesse processo, vai se instalando uma
mentalidade relativista de opção pelo imediato e pelo que dá prazer e
satisfação. As pessoas não se perguntam pela verdade, pelos autênticos valores,
mas, pelo que é bom, agradável e prazeiroso. Disso tudo deriva os “valores” que
a sociedade oferece à novas gerações: hedonismo, individualismo, desejo de
posse e de acúmulo , independência, concorrência, conforto, vida cômoda,
prestígio, busca de poder, autocentralidade. Não há dúvidas que essa é a realidade interior
de muitos dos jovens que batem às nossas portas manifestando o desejo de ser
frades. A própria vida consagrada não está isenta dessas influências. Antes, os
sinais de vidas consagradas banalizadas, sem vibração, cinzentas e de
comportamentos ambíguos, são cada vez mais frequentes.
A vida religiosa franciscana-capuchinha deseja ser uma
proposta alternativa a essa realidade: uma vida fraterna, de partilha, de
serviço, frugal e menor, na mútua dependência, peregrinos e forasteiros, sem
nada de próprio, na oblação e obediência, na busca de Deus. Como fazer a passagem daquele modo de ser para
este? Aí está o grande desafio da formação inicial, mas, também permanente,
pois, todo o irmão precisa de muita vigilância para não retornar aos velhos
valores. Nesse sentido, a formação inicial implica num verdadeiro processo de
conversão: passagem de um projeto mundano, no sentido literal da palavra, para
um projeto evangélico. Se a formação inicial não atingir o coração do jovem
para mudar seu projeto existencial, não haverá formação, não haverá conversão.
Se a formação inicial se preocupar apenas com a adequação disciplinar e não
trabalhar as motivações profundas para que se realize a mudança, colocaremos um
hábito franciscano num jovem que em seu coração estará em contradição com o que
aparenta. Será um homem aparentemente de
Deus com atitudes não evangélicas. A vida consagrada, então, antes que ser
franciscanamente menor, torna-se um meio da buscar a própria promoção e
ascensão social. De um coração não convertido, em que não aconteceu a mudança
de projeto, nascem a concorrência,
maledicências, conflitos, busca de posse
e poder, apropriação de dinheiro e bens. Como consequência vamos ter um
religioso fragilizado em suas convicções e valores, um problema institucionalizado
e escândalo para o povo de Deus.
Eis aí o grande desafio da formação: ajudar esses jovens
que ingressam com motivações defensivas e humanas a fazer um processo de
mudança para que possam assumir uma identidade religiosa e franciscana
realmente forte, resistente, com
“músculos” e ser, de fato,
testemunho alternativo e realmente evangélico para nosso mundo.
Precisamos motivações profundas e identidade forte não
para concorrer com outros carismas ou com a sociedade, mas, para entrar em
diálogo, servir e se doar. Alguém que não tem clareza em sua identidade não
terá pré-condição para entrar em diálogo
e respeitar o diferente. Não será um servidor, mas, alguém que sonha ser
servido. Em vez de conduzir, será conduzido pelo mundo, em vez de evangelizar
será contraevangelizado. Sem identidade
forte, será “morte na praia”. Mais do que nunca formar para a vida consagrada é
um desafio e requer formadores habilitados, muita capacidade de diálogo e um
longo tempo de reflexão, contemplação e práticas para que o projeto evangélico
se torno carne, coração e vida de cada frade e de todos os frades.